quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Algo se moveu no chão, embaixo da minha janela, lançando uma longa sombra parecida com uma aranha pela grama, enquanto corria para fora de minha visão atrás de uma cerca. Quando voltou correndo, vi que era um cachorro, um vira-lata novo e magro, certamente fugido de casa para descobrir o que acontecia depois que escurecia. Farejava buracos de esquilos, não com o intuito de cavar e ir atrás de um, mas apenas, quem sabe, para ter uma ideia do que eles faziam àquela hora da noite. Passava o focinho por um buraco, empinava-o alto no ar, sacudindo o rabo, saía correndo atrás de outro. A lua cintilava em torno dele na grama molhada; e, quando corria, deixava rastros como manchas de tinta escura respingada na superfície brilhante do gramado. Correndo de um buraco para o seguinte, ficou tão entusiasmado com o que estava descobrindo - a lua lá em cima, a noite, a brisa plena de cheiros tão selvagens que fazem um cachorro jovem ficar bêbado - que teve de se deitar de costas e rolar. Ele se torceu e se remexeu como um peixe, as costas arqueadas e a barriga empinada, e quando se levantou e sacudiu um borrifo saiu do seu pelo sob o luar, como escamas de prata."

Ken Kesey, em Um estranho no ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1962).